À guisa de introdução à leitura de Stuart Hall
Produzir um material como o Escrutínio, proposto pela revista Quase-Ciências, pressupõe pelo menos três momentos diferentes: a preparação para o encontro, por meio da leitura e compreensão dos textos propostos; a participação do encontro em si, promovendo a discussão do texto e estabelecendo as relações possíveis com a realidade onde o GECCE se insere bem como com as leituras que seus participantes têm efetuado; e, após o encontro, a organização da memória e do registro de como todo esse processo transcorreu. Há enormes ganhos quando, valendo-se da devida licença, se adota como estratégia o uso da categoria diáspora – tão cara ao autor estudado – para pensar todos os deslocamentos inerentes a este conjunto de tarefas. Um movimento de dispersão se faz sentir desde o contato direto e objetivo com o texto do autor. Impossível ler Stuart Hall e não ser tocado pela própria dinâmica Encoding/Decoding – o emaranhado de representações que permeia o currículo pessoal de cada leitor sendo iluminado pela teoria que se quer apreender.
De fato, uma série de mediações se dão já no momento da leitura dos textos do autor, e “[…] antes que [sua] mensagem possa ter um ‘efeito’ […] deve primeiro ser apropriada como um discurso significativo e ser significativamente decodificada” (p. 368). Tal tarefa de apropriar-se de seus elementos teóricos será inevitavelmente articulada pelas vivências de cada indivíduo, bem como da comunidade de leitores à qual é filiado. O local onde cada indivíduo está situado em termos de classe, gênero, etnicidade e geração, entre outros, será determinante no processo de leitura e interpretação do texto, mas será também crucial no momento da sua discussão. Aqui não se deve esquecer das relações de poder presentes nas atividades acadêmicas. Estas são marcadas por um protocolo e, em tempos de Covid-19, irremediavelmente mediadas pela tecnologia da internet, com regras arbitrárias que terão efeito definitivo no já complexo processo de compreensão de conteúdos e significados que marcam uma aula[1] – sabendo-se, é claro, que tais marcas estruturais de constituição do real independem da vontade e das intenções dos estudantes, bem como do professor-orientador, figura paterna que, de acordo com a teoria psicanalítica, com quem Hall também dialoga na totalidade da obra aqui trabalhada, terá importante papel na constituição do sujeito acadêmico. Se assim o é em relação à leitura e à discussão do texto, não poderia deixar de ser durante o esforço de representação e montagem do texto de memória[2] que compõe este escrutínio. O esforço de buscar o trajeto percorrido na aula por meio das anotações, dos registros mnemônicos e no vídeo da aula é marcado também pela forma como se deu a decodificação desses eventos.
Feitas estas considerações iniciais, afirma-se aqui que o objetivo deste escrutínio será o de apresentar o registro das mediações e reflexões desenvolvidas a partir da leitura e discussão da entrevista “A formação de um intelectual diaspórico: uma entrevista com Stuart Hall, de Kuan-Hsing Chen”[3]. A construção do texto tem forte inspiração na etnografia[4], uma vez que a observação participante se apresenta como ferramenta apropriada para o registro das mediações e deslocamentos que ocorrem durante os trabalhos do grupo GECCE. Mesmo que não haja registro no texto, as discussões, no momento da aula, passaram por aproximações aos Sciences Studies propostos por Bruno Latour, por ser esta uma das perspectivas teóricas que inspiram boa parte dos trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores do GECCE[5].
Começando pelo fim: literalmente
Este escrutínio tem por base o encontro do Gecce ocorrido em 07/07/2021, onde se discutiu as duas últimas seções do livro “Da diáspora”, de Stuart Hall – Teoria da Recepção e Stuart Hall por Stuart Hall. Opta-se aqui, como informado em nota acima, por dar atenção à última entrevista do livro, “A formação de um intelectual diaspórico: uma entrevista com Stuart Hall, de Kuan-Hsing Chen”. Se a obra começa com um texto da socióloga Liv Sovik apresentando o autor (“Para ler Stuart Hall”), termina com o autor falando dele mesmo (“Stuart Hall por Stuart Hall”). A entrevista[6] começa com o autor discorrendo sobre A situação colonial[7], e a relação que tem com sua terra natal. Aspectos da biografia do autor se mostram relevantes para que se compreenda a trajetória e os caminhos acadêmicos que ele trilha. Temos notícia de um país com forte marcador étnico-racial e ainda com a ferida aberta do imperialismo britânico[8]. A pele escura o pôs em rota de colisão com estruturas excludentes, inclusive dentro de sua própria casa, uma vez que “[…] encorajavam a relacionar-me mais com amigos da classe média, de cor mais clara, o que eu não fazia” (p. 386). A marca da diáspora também era sentida em relação à classe, e vê-se um jovem que não estava disposto a tomar lugar numa sociedade onde os ingleses estabeleciam os limites e determinavam que tipo de papel cada um deveria desempenhar. Uma biografia[9] marcada por
(…) tensões coloniais clássicas como parte da minha história pessoal. Minha própria formação e identidade foram construídas a partir de uma espécie de recusa dos modelos dominantes de construção pessoal e cultural aos quais fui exposto. Eu não quis pedir licença, como fez meu pai, para obter a aceitação da comunidade de negociantes expatriados, americanos ou ingleses. Não conseguia me identificar com aquele mundo antigo do engenho e suas raízes escravocratas, a que minha mãe se referia como uma “época de ouro”. Sentia-me muito mais como um garoto jamaicano independente. Mas não havia espaço para isso enquanto posição subjetiva na cultura de minha família (p.387).
A conturbada relação com a família, com psicanalíticos contornos edipianos, é modelo para que se compreenda a relação com a pátria jamaicana. Hall não aceita a forma como sua família se estrutura, nem a maneira como aceita, e até abraça, o colonialismo – as relações eram marcadas pela disputa de poder familiar/político. O jovem e rebelde Hall buscará em autores como Marx, Freud, Eliot, Joyce, mas também na literatura caribenha, os elementos necessários para compreender sua família, sua pátria, seu mundo. Munido com tais armas, os conflitos com a mãe aumentam e ele se verá forçado a partir. Antes disso, é obrigado a reconhecer na própria família[10] as contradições da cultura colonial – a dependência colonial manifesta em preconceitos de classe, cor e dominação de gênero, bem como a destruição que promovem em termos subjetivos. Tais elementos se incorporaram e se tornarão manifestos na sua obra. O futuro sociólogo informará que este contexto
[...] acabou para sempre com a distinção entre o ser público e o ser privado, para mim. Aprendi, em primeiro lugar, que a cultura era algo profundamente subjetivo e pessoal e, ao mesmo tempo, uma estrutura em que a gente vive. Pude ver que todas essas estranhas aspirações e identificações que meus pais haviam projetado sobre nós, seus filhos, destruíram minha irmã. Ela foi a vítima, portadora das ambições contraditórias de meus pais naquela situação colonial. Desde então, nunca mais pude entender por que as pessoas achavam que essas questões estruturais não estavam ligadas ao psíquico — com emoções, identificações e sentimentos, pois para mim, essas estruturas são coisas que a gente vive. Não quero dizer apenas que elas são pessoais; elas são, mas são também institucionais e têm propriedades estruturais reais, elas te derrubam, te destroem (p. 390).
A sensação de inadequação e descolamento em relação à cultura colonial, experimentada ainda na Jamaica, segundo o autor, o prepara para o tipo de recepção que encontraria na Inglaterra. O autor fala de si como um “estrangeiro familiar”. Tendo sido criado na colônia, soube reconhecer a alma da metrópole. Sua diáspora lhe concedeu a condição de não pertencimento – “(…) longe o suficiente para experimentar sentimento de exílio e perda, perto o suficiente para entender o enigma de uma ‘chegada’ sempre adiada” (p. 393). O autor cita Simmel para falar do sentimento do estrangeiro: aquele que está, ao mesmo tempo, dentro e fora de um determinado grupo – com toda a carga de conflituosidade inerente a esta condição: o desarraigamento[11] como arquétipo de uma modernidade tardia, em que os processos migratórios se tornam protótipo da experiência humana contemporânea. A primeira seção da entrevista termina aprofundando discussão acerca da diáspora negra, descrita por Paul Gilroy no livro “O Atlântico Negro”. Para o autor, a experiência diaspórica começa com a chegada do projeto euroimperial em 1492. Desde então, miscigenação e tradução serão a tônica de uma cultura marcada pelo colonialismo – onde a religião cristã, com sua escatologia salvacionista marcando corpos, mentes e utopias, terão papel estratégico.
A segunda seção da entrevista, Momentos da nova esquerda, é marcada por questões acerca do envolvimento na política acadêmica inglesa. Sua ligação com intelectuais negros caribenhos. Seu desenraizamento em relação ao Caribe, que o leva a ficar na Europa quando a maior parte destes intelectuais voltam para participar do processo de independência de seus países, ou para cargos de liderança nos novos países independentes. A pós-graduação em meio à efervescência política dos anos de 1950 – como ser marxista sem seguir o cânone pregado pelo grande irmão Stalin? A Nova Esquerda, após 1956, rejeitava antigas diretrizes. O grupo
[...] tornou-se a consciência da esquerda, porque sempre fizéramos oposição ao stalinismo e também ao imperialismo. Tivemos a vantagem moral de poder criticar ambas as invasões, a húngara e a britânica[12]. Esse foi o momento — o espaço político — do nascimento da primeira Nova Esquerda britânica (p. 397).
O autor relata o desafio de conciliar o magistério em uma escola secundária com a edição da Universities and Left Review – após deixar Oxford em 1957. Neste momento, sente-se em constante diáspora, constituindo-se com a marca do olhar de estrangeiro em todos estes ambientes:
[…] Tenho uma relação estranha com o movimento da classe operária britânica e com as instituições britânicas do movimento trabalhista: o Partido Trabalhista, os sindicatos se identificavam com ele. Eu estava nele, mas culturalmente não fazia parte (p. 397).
Mesmo no seio da Nova Esquerda, o estranhamento seria uma constante.
[…] Sempre tive consciência dessa diferença; sabia que vinha da periferia daquele processo, que eu o encarava de um ponto de vista diferente. Eu estava aprendendo a me apropriar dele, em vez de sentir que a cultura já era minha (p. 398).
De qualquer forma, Stuart Hall narra que a Nova Esquerda surge como expressividade dos Novos Movimentos Sociais – antes que estes existissem. É em meio a estas questões que se dão suas relações com os outros “pais fundadores” dos Estudos Culturais: tencionamentos com Thompson, cooperação com Williams e Hoggart. Sempre em deslocamento, visita e propõe novos temas, tais como cinema e meios de comunicação de massa.
Na terceira e última parte da entrevista, O período em Birmingham, o autor conversa com o entrevistador sobre o Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS). O fato é que o próprio Centro também passa por um movimento diaspórico. Num primeiro momento seu principal foco é a classe – embora não no sentido do cânon marxista. Aliás, a entrevista fala de uma extensa gama de temas e autores que eram lidos sem nenhum tipo de preconceito – de Weber a Benjamin, de Lukacs a Mannheim, dos estudos iconográficos à etnometodologia, numa tentativa de escapar à primazia da classe como categoria que, na visão do autor,
[…] tinha distorcido o marxismo clássico, impedindo que este abordasse com seriedade as questões culturais. […] [L]íamos tudo isso, para tentar encontrar algum paradigma sociológico alternativo (alternativas para o funcionalismo e o positivismo) (p. 404).
E a diáspora do Centro, em termos teórico-metodológicos e conceituais, atingirá outro nível com a chegada do feminismo
[…] [que] realmente eclodiu no Centro, por si só, em seu próprio estilo explosivo [novos temas, novos olhares, iconoclasta]. Mas não era a primeira vez que os estudos culturais pensavam sobre o assunto ou tinham consciência da política feminista” (p. 405).
A questão é que faltava aos integrantes do Centro a sensibilidade para perceber certos meandros do patriarcado – o que as feministas souberam fazer com maestria. Num dado momento, no final dos anos de 1970, a tensão com suas alunas feministas fará com que o autor faça mais um dos seus movimentos diaspóricos: a saída para a Open University – os Estudos Culturais, criados na estufa de um Centro de Pós-graduação teriam de enfrentar um ambiente acessível “[…] aos que não possuíam formação acadêmica” (p. 407). A entrevista finaliza apontando que a diáspora será dada a partir de circunstâncias histórico-sociais tanto de indivíduos como de grupos – tais tensionamentos agenciariam o surgimento de energias criativas capazes de sabotar a fixidez das identidades culturais demonstrando seu caráter híbrido e processual.
Concluindo sem um ponto final
Chega-se ao final desta leitura com a certeza de que o autor propõe um pensamento para além de posições hegemônicas. Seus constantes deslocamentos e diásporas são inspiradores para os que se propõem a promover o trabalho acadêmico na linha dos Estudos Culturais e Estudos Culturais da Ciência. A particularidade do olhar estrangeiro permite a percepção de posições e proposições de poder que, pela sedução de racionalidades e subjetividades, se instalam e se impõem. Aquele que participa da diáspora não se permite o luxo de levar consigo materiais supérfluos – sejam ideias, sistemas ou dispositivos. Stuart Hall segue, de modo diaspórico, inspirando estudos do GECCE – seja para pensar questões etnorraciais, corpos femininos ou ambientes de produção da ciência. Segue-se na Diáspora.
Referências
BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: AMADO, Janaína e FERREIRA, Marieta M. (orgs). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1998. p. 183-191.
BOURDIEU, Pierre; SAYAD, Abdelmalek. El desarraigo: la violencia del capitalismo en una sociedad rural. Buenos Aires / Argentina: Siglo XXI Editores, 2017.
CASTRO, Bruna J. O antropoceno e a urgência de pensar possibilidades não modernas para a análise de questões ambientais: a controvérsia para a solução da poluição dos oceanos por plásticos. Orientador: Moisés Alves de Oliveira. Tese (Doutorado em Ensino de Ciências e Educação Matemática) – Universidade Estadual de Londrina. Londrina, 2018.
DELEUZE, Gilles. O que é uma aula? Vídeo (1,37 min.). Publicado pelo canal LABID UFPB. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-C2BlFFUu9M&t=2s. Acesso em 10 jul. 2021.
HALL, Stuart. Teoria da recepção. In: Da diáspora: identidades e mediações culturais. 2a reimp. Belo Horizonte: EDUFMG, 2008. p. 331-381.
HALL, Stuart. Stuart Hall por Stuart Hall. In: Da diáspora: identidades e mediações culturais. 2a reimp. Belo Horizonte: EDUFMG, 2008. p. 382-410.
POLLAK, Michel. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n.3, p. 3-15, 1989.
STRATHERN, Marilyn. O efeito etnográfico. In: STRATHERN, Marilyn. O Efeito Etnográfico e outros ensaios. São Paulo: Cosac & Naify, 2014. p. 345-405.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O nativo relativo. MANA: Estudos de Antropologia Social. Rio de Janeiro. n. 8, vol. 1, p.113-148, 2002.
[1]Aqui busca-se a discussão proposta por Deleuze em curto vídeo disponível na internet sobre a aula: para ele, esta nunca é um bloco monolítico e acabado, sendo sempre um dispositivo em movimento. Embora haja um percurso proposto, os que participam dela são coautores na medida em que contribuem e interagem por meio de falas ou silêncio, interferindo em seu desenvolvimento e promovendo deslocamentos e ressignificações que se dão, em conformidade com as discussões de Hall, por meio da trajetória cultural dos partícipes. Sendo assim, a aula é atravessada pelo caráter do projeto inacabado – sendo que, do conjunto da obra, cada estudante acaba por se apropriar do que lhe convém (DELEUZE, 2021).
[2]Para a discussão sobre a memória, este escrutínio considera que ela deva ser pensada como rastros que demarcam o percurso percorrido por uma pessoa, sendo importante referencial para a análise histórica da experiência vivida (POLLAK, 1989).
[3]Durante o encontro de 07/07/2021, também foram discutidos os textos da seção Teoria da Recepção – a saber, o texto “Codificação/decodificação” e a entrevista “Reflexões sobre o modelo de codificação/decodificação: uma entrevista com Stuart Hall”. Mas, por questões de espaço editorial, opta-se por tal recorte – embora, principalmente na introdução deste texto, reflexões referentes à seção citada apareçam de forma direta e indireta.
[4]Como existem muitas abordagens para esta produção antropológica, afirma-se identificação com a proposta de Strathern (2014), que aponta a reflexividade como parte constitutiva do trabalho etnográfico, em que a descrição tem prevalência sobre a explicação e a representação. Tomando o trabalho de escrita como tentativa de recriação da experiência vivida, a proposta aponta para a complexidade como a tônica do trabalho de descrição, pois acredita que, em certa medida, todas as coisas fazem parte e estão relacionadas umas com as outras – logo, é preciso um esforço de registro das interconexões. É nesse esforço de imersão que surge o momento etnográfico, como “(…) relação que junta o que é entendido (que é analisado no momento da observação) à necessidade de entender (o que é observado no momento da análise)” (STRATHERN, 2014, p. 350). Tal concepção pressupõe a etnografia e a observação participante como trabalho relacional por excelência: a mediação necessária entre o observador e aquilo que é observado (VIVEIROS DE CASTRO, 2002).
[5]O corpo da obra de Latour é atravessado por uma vasta diversidade de temas. No entanto, é possível identificar como fio condutor da sua produção intelectual a discussão antropológica do que se convencionou chamar de modernidade – principalmente nos termos das contradições de sua produção científica e política. Para tanto, ele se vale da ANT (actor-network theory ou teoria ator-rede) afirmando que as condições de existência, marcadas por um matiz onde predominam a fugacidade, a transitoriedade e o performativo, não colocam o humano em condições de se constituir como superior e autônomo, mas que suas ações são dadas pelo seu envolvimento e associação a muitos outros seres – humanos e não humanos – numa rede formada por organismos, máquinas, sistemas de regulamentações, animais, instituições, dinheiro, entre outros (CASTRO, 2018).
[6]Entrevista concedida a Kuan-Hsing Chen, intelectual taiwanês que trabalha na área de Estudos Culturais Interasiáticos (professor da Universidade Nacional Chiao Tung, cidade de Hsinchu, Taiwan). Foi publicada pela primeira vez em livro organizado por Chen e David Morley em 1996.
[7]Pode-se dizer que Stuart Hall faz parte daquele grupo de intelectuais que viveram a experiência concreta da situação colonial e que tiveram sua obra acadêmica marcada por ela, tais como Frantz Fanon, Edward Said, Pierre Bourdieu e outros.
[8]Stuart Hall deixa a Jamaica em 1951. O país só conquista a independência em 1962.
[9]Aqui é importante uma pausa para pensar a crítica feita por Bourdieu (1998) acerca dos relatos biográficos. O autor condena estudos que se valem do uso das biografias para a produção do conhecimento histórico, tomando as identidades analisadas como se fossem construtos perenes, além da influência dos contextos históricos e sociais, portanto atravessadas por uma unicidade lógica imutável. A reprodução icônica dos fatos da vida, neste caso, nada teriam a contribuir para a compreensão de uma dada realidade. Tais críticas passam ao largo do relato de Stuart Hall. Nela vê-se que é o próprio contexto que faz surgir o esforço de compreensão intelectual da colonialidade e da diferença.
[10]Na entrevista, Hall fala sobre o fato de a irmã ter sido proibida de ter um relacionamento com um médico negro e de como isso prejudicou sua sanidade mental.
[11]O autor não cita, mas este é o título em espanhol (El desarraigo) de um dos trabalhos iniciais de Pierre Bourdieu (2017), quando, junto com Abdelmalek Sayad, trata do desenraizamento cultural produzido entre os camponeses argelinos submetidos primeiro ao trabalho em campos de concentração (na tentativa de impedir que colaborassem com o Exército de libertação) e depois no sistema de produção socialista do novo governo independente.
[12]Em agosto de 1956 a União Soviética invade a Hungria e a Inglaterra toma Suez.
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