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  • Foto do escritorGabriel G. Villarda

ENCONTRO EM CRISE: DISCUSSÕES DA OBRA ‘A ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS’ DE THOMAS KUHN

Atualizado: 17 de mar. de 2022


Por Gabriel Villarda


Encontro em crise


Este escrutínio é formado a partir de um compilado de anotações, observações e falas que surgiram durante o encontro do dia 01/09, data na qual foi colocado em discussão a obra de Thomas Kuhn “A Estrutura das Revoluções Científicas”. Ele tem início com a percepção de que seria um encontro complicado, devido ao fato de que ocorreu de forma online e estávamos à mercê de uma instabilidade generalizada nas redes de internet na cidade de Londrina PR.

Quem abre o debate é a Ana, que começa sua fala dizendo que ao contrário do que o professor disse anteriormente, que não tinha uma visão clara da relação da obra de Kuhn com a cultura, ela em sua leitura, estava fazendo o deslocamento da obra para uma visão mais cultural. Ela inicia dizendo em como uma ideia ou raciocínio do autor a respeito dos chineses estudarem as estrelas, a fez refletir e pensar em outras possibilidades, outras culturas e outras histórias além das que conhecemos ou que estamos mais habituados. Ao terminar seu raciocínio e seguir para finalização de sua frase, Ana sem querer tocou e abriu a caixa de pandora que espalharia o caos e crises pelo grupo naquele dia. Ela traz ao debate que Kuhn utiliza a noção de crise, e que estas crises são importantes para as revoluções.

Há então aí a intervenção do Professor Moisés com uma fala que abriria uma ampla discussão. O professor a questiona se teria ficado clara, para ela, a noção a respeito do conceito de crise que Kuhn trazia, já que para ele não havia ficado. Em seguida o professor pergunta: “O que é a crise para Thomas Kuhn? Essa crise paradigmática?”, explicando que o autor chama atenção ao dizer que para algum segmento o que é visto como uma crise, pode ser visto como algo absolutamente normal por outro. É aí que começa a surgir a pergunta, pelo menos para mim que é o que Thomas Khun trata como uma grande revolução paradigmática?

Uma das observações feitas a respeito dessa pergunta, é em relação a escala das revoluções e das crises, se elas acontecem de forma pequena, que em outro lugar ou de outro ponto de vista possam parecer ínfimas ou até mesmo irrelevantes, ou se ocorrem de forma considerável a ter grande impacto.

Também surge uma pergunta que se realça nas minhas memórias e também nas minhas anotações, feita pela Gabriela se o caráter somativo das ciências normais, que tendem a acrescentar pontos e fortalecer os paradigmas vigentes está relacionado com as crises e rupturas, ou se é só um processo de seguir, uma continuação.

Lembro de outro comentário, o do Leonardo que lembra da importância de tomar cuidado ao levantar outros autores e não perder de vista as características do autor, além de colocar a sua compreensão do que é paradigma para Kuhn. Disse pensar que para Kuhn, o paradigma é o fundamento, ele é a essência. Em seguida ele traz um breve trecho do texto para falar de três formas que Kuhn pensa que podem terminar uma crise, que ao explicar e listar de maneira bem simplista pode ser colocada como: a resolução do problema, que por consequência dá fim a crise. A não resolução do problema por conta de falta de artifícios para resolver tal problema, e é deixado de lado para que posteriormente seja resolvido e por consequência seja dado um fim à crise, ou o problema é tão grande que precisa urgentemente ser resolvido. “Deste ponto de vista me parece legal notar, que a ciência normal sempre vai produzir crises – para Kuhn”.

Dando continuidade as discussões logo me vêm à cabeça a contribuição do Valter neste ponto das discussões de tentar olhar para as situações e conceitos descritos no texto segundo a ótica do autor, ou seja, olhar através de uma “lente”. Ele ressalta que Kuhn cria a sutileza do paradigma e que é necessário olhar para as coisas através deste pensamento, e não corrompido pelo olhar de outros autores, caso contrário haverá dificuldades e se tornara uma visão turva ou complexa demais para ser compreendida.

Outro comentário do Valter que me salta a memória é de observar o paradigma segundo uma ótica estruturalista, o paradigma sendo uma estrutura colocada dentro do campo da ciência onde cabe ao cientista resolver problemas, problemas esses que o paradigma permite a ele enxergar. Conforme esses problemas são resolvidos, novos conhecimentos são produzidos, que por sua vez permitem que novos problemas sejam identificados dando prosseguimento ao processo. Quanto tempo isso leva? Não faço a menor ideia, pode levar muito tempo então há sempre a renovação dos que mantem o paradigma, jovens cientistas fiéis ao velho paradigma são sempre interessantes do ponto de vista de manter em funcionamento o paradigma vigente.

Surgem também apontamentos realizados pelo Alex para as possibilidades de observar as ideias de crise e do processo de paradigma para perto de nossas realidades, para algo mais singelo e próximo do que com algo em uma escala maior. Há também a respeito disso mais discussões e apontamentos do Leonardo para falar de um viés político e econômico que podem estar atrelados a essas situações, além de salientar o viés coletivo do processo paradigmático.

Penso em como vários comentários acerca do texto levam para algo grandioso, algo de proporções gigantescas e que parecem um pouco diferentes do que eu consigo observar. Aos meus olhos as rupturas, crises e processos paradigmáticos estão presentes mesmo de formas pequenas, seja em um laboratório de escola pública que luta arduamente para conseguir se manter e prosseguir ou até mesmo para pessoas sem-terra que se apegam a produção de uma pomada para seguir adiante com as vidas. Conforme as discussões vão ocorrendo mais se vê a complexidade a respeito das noções de crise e de ruptura paradigmática.

Conforme começo a olhar as folhas espalhadas com as minhas anotações e pensar nas discussões realizadas durante essa manhã percebo que ao abrir a caixa de pandora com a sua observação, Ana soltou os monstros da crise e do paradigma que reinaram soltos durante o encontro do GECCE, mas e no final os monstros foram vencidos? Não havia junto com os males da caixa, a esperança? Seria possível sair de um encontro do GECCE sem dúvidas?

Acho que no final, o que temos são mais dúvidas.


Referência


KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1997


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